Mulheres na tecnologia: rompendo a barreira de gênero nas empresas

06/03/2020

Inovação

Mulheres na tecnologia: rompendo a barreira de gênero nas empresas

As mulheres são metade da população de Santa Catarina, mais precisamente 50,38% segundo o IBGE. Então, por que elas representam apenas 42,3% dos colaboradores nas empresas de tecnologia no Estado, como revela o Tech Report 2019?

Esse índice, divulgado pelo Observatório da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE) e pela Neoway, é tanto menor quanto mais alto o cargo dentro das organizações. Três em cada quatro sócios são do sexo masculino.

Para este Dia Internacional da Mulher, o Negócios SC deseja mostrar por que isso é um problema e quais soluções têm surgido em Santa Catarina.

Preconceito com as mulheres na tecnologia

Poderíamos arranjar alguma justificativa fácil para esses números, como “homens se interessam mais por tecnologia que mulheres” e dizer que está tudo normal. Mas virar as costas para o problema da baixa representatividade das mulheres na tecnologia não o fará desaparecer.

Primeiramente, estamos negando o equilíbrio na participação do trabalho a uma parcela considerável da população, ainda mais em um setor importante para a economia catarinense. O Tech Report 2019 mostra que o setor de tecnologia em Santa Catarina representa 5,8% do PIB estadual, com um faturamento de R$ 15,8 bilhões.

O segundo ponto é que o mercado de inovação precisa de pluralidade de experiências, visões e propostas para crescer. A maior participação das mulheres na tecnologia, especialmente em cargos de liderança, abriria o leque de soluções possíveis para desenvolver e ajudaria a posicionar cada vez mais Santa Catarina como um polo inovador.

Por fim, ao ignorar a questão da representatividade, deixamos de lidar com um problema social grave: o preconceito.

— Uma mulher em cargo de liderança em empresa de tecnologia deve estar constantemente provando a sua capacidade de liderança e força, pois ainda vivemos em uma sociedade machista e preconceituosa. Não é fácil — revela Aneliese Cruz, gerente de marketing e vendas da Alkasoft, empresa de Florianópolis que comercializa softwares jurídicos.

A Alkasoft é uma das empresas catarinenses que procuram reverter esse cenário de que as mulheres precisam provar o dobro para ocupar as mesmas funções que homens. Competência, aliás, as mulheres na tecnologia têm de sobra.

— O movimento que vem acontecendo é o de mulheres mais bem capacitadas e investindo em suas carreiras, em uma busca contínua de aprendizado para acompanhar um mercado em mudança acelerada. Aos poucos, estamos ganhando nosso espaço e as mulheres que estão entrando neste setor podem contar com outras que vêm conquistando esse lugar e ter o exemplo de que juntas somos mais fortes — afirma a gerente.

Leia também: Vida de CEO: lições de liderança para chegar ao topo

Os talentos femininos da Alkasoft. (Foto: Divulgação)

Poder para elas

Algumas iniciativas — lideradas por mulheres e para mulheres — também estão ajudando a mudar esse panorama no Estado. A Tech Power da Dialetto é ótimo um exemplo disso. O projeto usa a expertise em comunicação das colaboradoras da Dialetto, agência de consultoria em comunicação, comunicação corporativa e inbound marketing, para divulgar as iniciativas de mulheres do setor e integrá-las às empresas de tecnologia.

— As iniciativas [como a Tech Power] contribuem para incentivar e fortalecer a presença de mulheres no setor. Assim, os grupos atuam para mostrar às mulheres que é possível ingressar nesse meio, principalmente em atividades como programação e cargos de liderança. O que percebemos é que os grupos ajudam não apenas a integrar as mulheres que já atuam no setor, como apresentá-las como exemplo para outras que queiram trabalhar nessa área — esclarece Carol Passos, jornalista e membro da Tech Power.

O projeto foi lançado no Dia Internacional da Mulher em 2019 e comemora o primeiro aniversário com importantes avanços para as mulheres na tecnologia em Santa Catarina.

— Foi um ano bastante construtivo. Nós temos um banco de apoio no qual as empresas podem contribuir financiando coffee breaks ou dando espaço para os eventos de tech voltados ao público feminino. Esse banco e a procura de mulheres interessadas em saber mais sobre o setor têm crescido constantemente. Inclusive, ano passado, participamos do Bruxas da Tecnologia, que reuniu diferentes grupos de mulheres. Foi um momento importante e inédito para Florianópolis — Carol celebra.

Por outro lado, a jornalista lembra duas questões que precisam ser melhoradas. A primeira é o fato de que mulheres ficam mais restritas a vagas em setores como Recursos Humanos e Marketing nessas empresas, sem muita participação nas áreas técnicas. A segunda é a falta de mulheres em cargos de liderança.

— Elas ainda sofrem com o machismo em ambientes dominados por homens, como os cursos de exatas, por isso os exemplos femininos são tão importantes. Nós ajudamos a divulgá-los de diferentes formas. Acreditamos que observando mulheres à frente de projetos ou inovando de alguma forma possa fazer crescer essa vontade em meninas, jovens e até mesmo em mulheres que queiram mudar de carreira — completa.

Os conteúdos inspiradores da equipe Tech Power estão no Instagram @techpowerdialetto (Foto: Divulgação)

Mulheres à frente dos negócios

As empresas também precisam fazer a parte delas. Algumas delas, inclusive, já implementaram políticas de inclusão que facilitam o ingresso de diferentes gêneros na tecnologia. Carol Passos ressalta que o ambiente deve ser acolhedor para que as mulheres tenham condições de se desenvolverem e crescerem nesses espaços.

Entretanto, está nas mãos delas tornarem-se empreendedoras e começarem seus próprios negócios. Assim, tem-se mais posições de liderança para mulheres na tecnologia.

Dois programas podem ajudar nesse sentido em Santa Catarina. O Mulheres ACATE posiciona-se como um grupo que promove encontros abertos não só às empreendedoras associadas da ACATE, “mas também às profissionais do mercado e estudantes que querem fomentar o desenvolvimento feminino no ecossistema de inovação e tecnologia”. Já o Sebrae Delas é um programa de aceleração com o objetivo de aumentar a probabilidade de sucesso de ideias e negócios liderados por mulheres.

Além de adquirir uma maior competência empresarial, essas trocas de experiências e capacitações são importantes para as mulheres desenvolverem a autoconfiança na hora de construir um caminho próprio. Não é apenas as mulheres na tecnologia que têm a ganhar com isso, mas todo o setor em Santa Catarina.

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